Na primeira metade do século 20, o cacau baiano era extremamente valorizado no mercado internacional, proporcionando décadas de fartura para os coronéis dos arredores, que exportavam toneladas para o exterior todos os anos.
VASSOURA DE BRUXA - Com a doença, descoberta em 1989, o fungo rapidamente se espalhou e o período de abundância foi interrompido. Os cacaueiros secaram e passaram a aparentar uma vassoura velha - daí o nome. Cerca de 30 mil fazendas entraram em falência. Com essa falência dos proprietários rurais, vieram também os incontáveis prejuízos de uma uma cadeia comercial dos municípios da região cacaueira. Milhares de comérciantes foram diretamente atingidos pela queda na produção de cacau e consequentemente fecharam as portas, causaram também desemprego urbano, tal qual já eram contabilizados no agricultura.
NOVOS TEMPOS - Diante deste cenário trágico, houve, porém, quem soube extrair benefícios. No assentamento Dois Riachões, no município de Ibirapitanga, a praga permitiu que se fizesse a reforma agrária e virasse o lar de 150 pessoas Após se engajar em movimentos de luta pela terra e receber capacitações e apoio de instituições, a comunidade tornou-se exemplo de superação. Passou a vender cacau premium e de qualidade para grandes marcas, conquistou liberdade, independência financeira e soberania alimentar. Mas nem sempre foi assim.
OCUPAÇÃO DE TERRA - Antes de tomarem posse do assentamento Dois Riachões — e da vassoura-de-bruxa —, muitos dos atuais moradores costumavam trabalhar em fazendas de cacau como empregados temporários, recebendo por semana de acordo com o serviço. As condições de trabalho eram muito duras: há aproximadamente 15 anos, Edivaldo dos Santos, o Biscó, ganhava em torno de R$ 12 por semana, não tinha direitos, carteira assinada e tampouco podia plantar o próprio alimento. "Eu achava que não tinha valor nenhum, era praticamente um trabalho escravo", diz.
"A gente considera a vassoura-de-bruxa não como uma praga, mas sim como uma 'santa' vassoura. Nós estamos na terra hoje graças a ela". Essa frase, do agricultor Rubens de Jesus, pode causar arrepios e repulsa para milhares de fazendeiros que perderam suas lavouras de cacau nos anos 90, quando esta devastadora doença causada por um fungo deixou diversas propriedades improdutivas no sul da Bahia. A praga causou inúmeros prejuízos sociais, ambientais e econômicos, além de mais de 150 mil agricultores desempregados naquela que é a principal região produtora de cacau do país desde o século 18, responsável por abastecer as grandes indústrias do setor.
*Reproduzido da Floresta/UOL
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